sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

NO CENTRO DA FORMA: a vivacidade do instante!















o
pulso
pulsa
impulsiona/impressiona
e na vida
re
a prende
a
amar & amar
No logos,
da beleza
quaisquer simetria
estabelece
uma sintonia de pele
que impele a cria
ao risco

Do caos ao universo,
no centro da forma: a vivacidade do instante!


(In. Dourada Cotovia. Vanda Lúcia da Costa Salles)

domingo, 15 de janeiro de 2012

DO PRIMADO DA BIOECOLINGUÍSTICA- VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES















DO PRIMADO DA BIOECOLINGUÍSTICA



Por: Vanda Lúcia da Costa Salles (Brasil)







I- Da Escutatória em seu Coexistencialismo Estético:



ALFABETIZAÇÃO



Curumim falou
Que a floresta pia
Pássaro livre


Imaginem!


Imaginem!



Se povo.... Ave!





ESSE AMOR TÃO ANTIGO: Poema



Estilete em punho. Ato
inscrito na pele do barro surge
poema tão caro ao
meu coração
Divina é a tua beleza,
doce como mel
Estrangeira história tão cara
ao meu coração
Divina é a tua beleza
doce como mel.




II-O SENTIDO DA VOZ:



INTERTEXTUALIDADE E INTRATEXTUALIDADE EM AUTORES LATINOS-AMERICANOS CONTEMPORÂNEOS.



“Não é vão esforço unir a vida dos povos.
Nem vã a luta que espera de nós o Deus Poderoso.”



Silvia Aida Catalán (Argentina)





A vida é arte por excelência. Efêmera, talvez. Entretanto, deve estar no centro das atenções humanas. Ter essa idéia na memória é exercitar a consciência poética. E nós, latinos-americanos, o tempo todo isso já fazemos como comprovam nossas obras e lutas, do pleno exercício de vida cotidiana à presença nessa conceituada e histórica Universidade Nacional de San Martín, aqui, na Argentina e em intercâmbio com T.A.A.R. (Taller Artístico Alas Rotas-Alitas de América), cujo sonho nos deixam irmanados.
Um renomado escritor brasileiro, ímpar na construção da palavra, genial e ousado em sua linguagem, Machado de Assis disse certa vez: “ O tempo é um tecido invisível em que se pode bordar tudo, uma flor, um pássaro, uma dama, um castelo, um túmulo. Também se pode bordar nada. Nada em cima do invisível é a mais sutil obra deste mundo, e acaso do outro.”
Na sutileza do instante dizemos que quando a alma beija o coração a poesia se revela. Esperando que a poesia se faça revelação, ilumine a todos, e que a palavra se faça eterna cúmplice da verdade ( com ética e estética) na busca ao livre pensar, expressamos as nossas mais singelas saudações.
Nos estudos poéticos e arteterapêuticos empreendidos em pesquisas em língua e linguagem, em busca da técnica plena por uma prática de ensino que explicite o essencial no possível e proveniente do centro da forma, o qual denominamos de estudos em Bioecolinguística, embasamos todo um trabalho pedagógico nesses “Limites dos Discursos Paralelos”, tomando por base o brilhante trabalho do Professor e ensaísta brasileiro: Gilberto Mendonça Telles ( pertencente a ABL-Academia Brasileira de Letras), cujo livro “ Retórica do Silêncio I- Teoria e Prática do Texto Literário”, nos ajudou e ajuda em nossas pesquisas em educação e arte.
Em seu livro esclarece a dificuldade que há da leitura e escrita na escritura inaugural. Diz ele: “ o silêncio da censura excita o silêncio da cesura e os espaços vazios da linguagem se tornam os poros por onde a liberdade respira e permanece. Ler é fazer falar os silêncios da linguagem.”Então, humildemente procuraremos aqui fazer falar o silêncio das línguas e de suas linguagens, principalmente a literária e o diálogo interrelacional em arte.
Ao pensar a interseção entre linguagem, subjetividade e cultura há que se evidenciar o papel da palavra escrita, que por sua vez, principia em ser a representação do que se convencionou a chamar de linguagem verbal, mas também é o ponto fulcral para se estudar, pesquisar e refletir sobre a evolução histórica da humanidade- trabalho e produção social com comunhão étnica e lingüística em sua plena e justa verdade como comprovam as primícias da linguagem, enquanto processo e elos construtores da informação, saberes e conhecimento.
A língua faz parte de uma cultura, ter falantes e documentação escrita são as bases para que esteja viva e em constante renovação. Portanto, “ a preservação da diversidade lingüística é essencial, pois a língua está no cerne do que significa ser humano”, conforme contundente afirmação do Professor em Linguística David Crystal em seu livro “ A Revolução da Linguagem” .

Pela palavra o indivíduo se constrói e se construindo configura-se no , com e para o mundo, isto é, quanto mais se configura como sujeito que intersubjetiva-se mais densidade subjetiva conquista, porque sabemos que “ a intersubjetividade é a tessitura última do processo histórico de humanização” ( FREIRE, 1984). E essa tessitura em sua gênese ontológica qualificativa prima pelo princípio do respeito à diversidade, às diferenças étnicas, culturais e religiosas no planeta, o qual necessita de reformulações cotidianas nas ações contemporâneas de apropriações dos espaços, do corpo e da língua para que a consciência e a razão fundamentem, o diálogo essencial, e seja ponte nas relações intersubjetivas. E por sermos seres inconclusos, necessitamos aprender o significado para compreender profundamente a significação da vida na vida. E isto acontece mais facilmente através da arte que também é linguagem e desvela, revela e transfigura-nos para além das fendas do silêncio das formas claras, energéticas e primordiais que se materializam na evolução e discernimento do humano em nós.
Daí que para pensarmos a exclusão no espaço cotidiano vivencial de qualquer cidadão e/ou nas escolas públicas na América Latina e em qualquer parte desse planeta é fato compreender que “ as desigualdades sociais têm origens econômicas e se perpetuam na desigual distribuição da riqueza na sociedade”( SOARES,1996) e na contundente retórica ideológica das classes dominantes exercidas, principalmente sobre muitas identidades étnicas consideradas minoritárias por àquelas. E ao buscar a memória arqueológica transdisciplinar do saber na história da educação e da arte, compartilhamos o que SOARES afirma:
“ A escola pública não é, como erroneamente se pretende que seja, uma doação
do estado ao povo, ao contrário, ela é uma progressiva e lenta conquista das camadas
populares, em sua luta pela democratização do saber, através da democratização da
escola pública. [...] diferença não é deficiência. Explica-se pela opressão que essas
classes dominantes, com a mediação da escola, exercem sobre as classes dominadas,
através da imposição de sua cultura e de sua linguagem, apresentadas como
legítimas”(ibidem, 1996, PP.9 e 55).
Cabem as camadas populares, cada vez mais, buscar caminhos que dignifiquem em qualidade a escola pública, fundando-se na relação dialógico-dialética entre educador e educando, onde ambos aprendam o seu profícuo “diálogo intersubjetivo”(GADOTTI,2001) e espraiem o acesso ao conhecimento, visto que para conquistar, questionar e transformar a cultura e a linguagem impostas pelas classes dominantes, “cabe aos professores compreender que : ensinar por meio da língua e, principalmente, ensinar a língua são tarefas não só técnicas, mas também políticas “ ( FREIRE, 2003).
E com isso aprender a construir o seu projeto político-pessoal e social, levando em conta que normalmente os dirigentes públicos se embasam em idéias ditatórias e discriminatórias para afirmar suas posições e ações, quase sempre, em detrimento da maioria da população nacional.
Um verdadeiro exemplo de intersubjetividades comunicativas aconteceu em minha prática educativa, que a mim parece, em uma reflexão enquanto educadora e escritora, estar coerente à proposta pedagógica que uso e ouso conceituar de Pedagogia Ex-Cêntrica – a que faz uso da paradoxa ao enfatizar às idéias em uma antropofagia transdisciplinar e reivindica a criação do Museu da Educação Coexistêncialista que enfatize estudos em Bioecolinguística e vá ao encontro do que propõe Boaventura Sousa dos Santos para desconstrução da “Subjetividade conformada” e da construção da “Ecologia do Saber”, conforme palestra na Universidade Federal de Minas Gerais, em 2001. Mas também confirma a importância da leitura e escrita, enquanto apropriação cultural na história da humanidade, como projeto fundamental para conscientização do lugar do humano no tempo presente, pesquisando e estudando autores latino-americanos em jogos de linguagem em sala de aula.
Após trabalhar a Intertextualidade e Intratextualidade na Poética Contemporânea através de parábolas, poemas, fábulas, contos e afirmar a necessidade de adquirirmos a técnica precisa para um desempenho interpretativo eficaz, o aluno Daniel Nazaré dos Santos ( da turma 521, do Colégio Municipal Irene Barbosa Ornellas, no Bairro Jardim Catarina, considerado a maior comunidade plana da América Latina, situada em São Gonçalo, cidade que pertence ao Estado do Rio de Janeiro, no Brasil) parou a aula onde eu colocava no quadro o texto “ Quanto Você Vale?”( LEGRAND, 2000), deu-me um papelucho de bala e disse ser um presente para mim. Ao parar a aula que estava ministrando e ler o texto ofertado, numa inspiração iluminada surgiu a idéia-conceitual da Bioecolinguística e para que servia. Naquele pequeno pedaço de papel de bala adocicada estava escrito a informação sobre o poema mais antigo, provavelmente escrito a 3.500 a. C., num bloco de argila, segundo historiadores informam sobre a pré-história e o aparecimento da escrita na Mesopotâmia ou, talvez, no Egito ( GUINESS WORLD,2007). E dizia assim:


O POEMA DE AMOR MAIS ANTIGO



“ Noivo tão caro ao
Meu coração
Divina é a tua beleza,
Doce como mel,
Leão tão caro ao
Meu coração
Divina é a tua beleza
Doce como mel.”


Percebemos de imediato, que o aluno fizera a intertextualidade com o livro “ Poemas rupestres”, do poeta brasileiro Manoel de Barros, o qual havíamos comentado em aulas anteriores. Quando explicara o que era intercomunicação poética. Ali vislumbrei, na prática, a importância da aproximação dos estudos de língua e literatura e do papel da educação nesse processo, principalmente numa interação afetiva de significação ética e estética. Pedi-lhe que escrevesse o porquê de ter dado a mim aquele papel. O aluno escreveu o seguinte; “ Professora, eu resolvi te dar esse papel de bala porque meu colega comprou a bala e nós dois lemos e gostamos e resolve-mo-lhe dá porque eu achei que ela (você) ia gostar e que ela ( você) ia passar no quadro para os demais alunos ”( aqui respeitada a escritura do aluno). Entendi que este aluno queria intercomunicar-se, pois intuía os recursos retóricos contemporâneos( logo ele, que vinha sendo reprovado por dificuldades de aprendizagem pela segunda vez), assim surgiu a idéia de aceitar o convite para participar desse Congresso de Língua, história e Linguagem, para pensarmos um pouco mais esses que ouso chamar de LOAVE ( loucos objetos amorosos, volúveis e especiais - elaborados por vários alunos do ensino fundamental, médio e do 3º graus), que em nossas pesquisas em Educação e Arte intitular-se-á: “ O Chamado das Musas” e tratará sobre os limites da originalidade em obras de arte.
Para falarmos dos limites da originalidade em obras de arte, além dos recursos retóricos de discursos paralelos, necessitamos entender que a Estilística é a disciplina que estuda a expressividade de uma língua, isto é, sua capacidade de emocionar mediante o estilo e a construção dessa singularidade. Por estilo, entende-se a maneira própria de cada escritor se expressar e/ou do escritor/leitor fazer discursos paralelos. Por Retórica a arte de elaborar discursos. Colocação da voz, codificada e transcodificada, em arte intencional, sublime na humanização dos signos, para a epifânica intercomunicação. E por discursos paralelos entendem-se os estudos sobre Figuras de Linguagem, e principalmente, o que é de nosso interesse e pesquisa: a Intertextualidade e intratextualidade em Autores Latino-Americanos.
Sabemos que no centro do pensamento contemporâneo dá-se a preocupação com a questão de Identidade/Diferença e Memória/Esquecimento, o que também permeia as discussões em Língua/Linguagem e de seus centros e margens periféricas, conforme pensamento de uma elite do conhecimento na atualidade. Daí entendermos que, nos tempos pós-modernos, da chamada “ vida-líquida” (BAUMAM,2007), carecemos aprender e ensinar a pensar a questão do lazer e de preservação do conhecimento enquanto patrimônio histórico e cultural da humanidade, mas também o uso que se faz deles.
Os cantos paralelos dividem-se em duas modalidades de discursos:a intertextualidade e a intratextualidade. Da intertextualidade podemos afirmar que é o processo de relacionamento dos diferentes discursos no espaço intertextual, enquanto ponto de cruzamento de vozes polifônicas. Esses cantos paralelos e retóricos na obra revelam a primazia do intertexto e de seu discurso, profundamente marcado pela literariedade, que requer um escritor-leitor ou leitor-escritor intercultural, além de definir outra ótica para o momento de criação poética em sua originalidade discursiva-dialógica.
A Intertextualidade subdivide-se, por sua vez, em: a alusão, a epígrafe, o prefácio, a paráfrase, o seguir, a citação, a influência, a imitação, o manifesto ( processos que tratam da identidade com uma obra); e a paródia e o pastiche ( considerados textos marginais. Entretanto o pastiche afirma um texto, já a paródia nega o texto fonte). A Intratextualidade se presentifica quando um texto dialoga com outro texto ou obra literária do mesmo autor, isto é, alude, cita ou parodia a sua própria escritura, em busca do encontro com a obra-prima que o faz adensar em sua obra com criticidade Estes processos ou recursos retóricos que também são chamados de “ cantos paralelos em obras de arte” estão presentes nos seguintes poetas e escritores latino-americanos; Marita Troiano (Peru), Marcela Muñoz (Chile), Yennes Paredes (Chile), Patrícia Dias Bialet ( Argentina), Silvia Aida Catalán (Argentina), Milagro Terán ( Nicarágua), Anace Blum (Equador), Beatriz Schaelfer Peña (Argentina), Esthela Calderon ( Nicarágua), Cristina domeneche (Argentina), Alejandro Drewes (Argentina),Antonio Miranda (Brasil) , Rita Galiasso (Argentina), Juan Emmanuel Ponce de Leon (Argentina), Silvia Long-Ohni, Louis Calaferte ( França), Manuel de Barros (Brasil), Odete Alonso (Cuba), Vicente Franz Cecim (Brasil), Yves Bannefoi (França), Carlos Enrique Ungo ( El Salvador), Marilda Confortin (Brasil),Astrid Fugellie(Chile), Antonio Carlos Secchim (Brasil), entre tantos outros que questionam as suas próprias obras ou personagens interculturais..
A análise de uma obra de arte no século 21 requer a conscientização das seguintes posturas expressivas e retóricas que permeiam as produções discursivas, conforme tão bem expressa o poema “ Intetextualizando César Vallejo”, de autoria do poeta brasileiro Antonio Miranda, cuja intenção metalingüística e dialógica cita o poeta espanhol para pactuar-se com a epígrafe , através de palavras apropriadas do vocabulário poético de Vallejo constrói jogos de linguagem e assim na memória coletiva da humanidade se inscreve;


“vagarían acéfalos os clavos”
César Vallejo
inventei o verbo aindar
quando ainda havia verbos e havia caminhar.

Havia idas e regressos
e havia versos a desafiar
o tempo e seus retrocessos.


!Tengo El alma clavada por cien clavos...!
vocifera Vallejo com ou sem pregos
cravados na garganta e nas asas seqüestradas.
Ainda havia flores tranqüilas nas madrugadas
e a certeza de arrebóis transcendentes
despertando um morto de sua tumba,
havia dentes, impurezas, sois e um horto havia.

Um morto que voltava às trevas da existência
com as luzes infinitas de seu desprendimento,
substâncias em clara mutação. Ainda;
apodreciam “ sueños que no tienen cuando”.

Aindando o inútil reverso
Do Não-ser e sua essência.

Sabendo que toda tradução é uma paráfrase, nesta tradução que ora elaboramos do poema “ Língua Materna” da poeta argentina Cristina Domenech, encontramos a alusão ao centro da forma, a confirmar o desenho solenóide que percorrem àqueles que versejam a ideal escritura. Ei-la que diz:

Dar ao sentido sua equívoca astúcia
Ou dizer fome
Engana a certeza da ausência.
Dizer fome também


Distrai levar-te onde aspiram a levedura
E será pão.
Então, retorno ao inferno e recordo
Dizer mãe
Quando já não há destino
Para a palavra. Tampouco então,
Compreende-se o mistério.
Tento inventar o divino. O silêncio

.Na poética da peruana Marita Troiano encontramos a poesia “ Algumas sugestões com que escrever poesia”, em sagrada escritura a divinizar o gesto que nos dimensiona na eternidade da odisséia humana.



Se não existira o papel,
nem os papiros do passado,
os pergaminhos as tintas ou as pedras...

Talvez
Sobre uma espádua tíbia com minha língua umedecida por seus beijos
Contra uma parede branca com as bordas ondulantes de tua sombra.
Na pele violenta de teus músculos, com uma agulha imantada
Nas lisas pedras do jardim, com meu suor e minhas lágrimas
Na curva casca de um ovo com pedaços de carvão
Sobre a areia clara com o tremor de meus dedos quando miras
Na indecifrável palma de minha mão esquerda
Movendo-se suas linhas até seu destino
Em tuas nádegas com minhas unhas largas
Sobre a cortiça das árvores com o vento de maio e uma faca
Em águas cristalinas jogando com teus reflexos
Em tua boca com a minha
Em tua nuca com meu alento
Em o ar com minhas asas
Em minha barriga branca com teus sonhos.

A chilena Marcela Muñoz Molina em “ Então os poetas guardam silêncio”, poema dedicado a Jorge Díaz, citando Rokha e Jorge Cáceres questiona a dificuldade cotidiana do fazer poético em busca da palavra ideal que corporifique a vivacidade do instante.




Então os poetas guardam silêncio.
Alguns se endurecem como nozes
outros se descascam, se caem a pedaços
voltam-se cortiça de árvore.
frágeis folhas amarelas
que se entregam ao vento
em queda livre como
Lira se vão de golpe como os
De Rokha
ou baixam os olhos como Jorge Cáceres.
Depois de abraçar à nostalgia
e acomodar-se às entranhas com as mãos
os poetas guardam silêncio.

Se quedam mirando fixo
a vitrine do café
o espelho do banheiro
a janela triste da cozinha.
E, somente o frio do inverno dos poetas.
quando as moedas,
perdem a importância que nunca tiveram
e o tempo perde a medida


que jamais foi compartilhada
Nem compreendida
Nem transcendente.

Quando se cruzam
todas as pontes do desafio
e fica claro que o desafio
era o movimento
que antes e depois de tudo
nada resta
que somente fica a mirada
o instante queda
e o registro desse instante
agora mesmo
vai
caindo.
Quando se corta o cordão
e a palavra se torna invisível
e se aninha em algum lugar do corpo,
na cicatriz de algum osso,
no espaço que separa os dedos.
Então,
os poetas guardam silêncio.





Temos o seguir nesse micropoema do argentino Alejandro Drewes que se espelha em haicai:

Um ínfimo beijo de luz nos transpassa,
tão suave e então, a terra
descansa.

Ou nesses tão bioecológicos versos :
Gotas de água no verde ventre
Primordial de umas folhas, gotas...

Também temos o Seguir em “Palavra” do brasileiro Antonio Carlos Secchim, com base na estética de João Cabral de Mello Neto, materializando o neoconcretismo:

Palavra
nave da navalha
inventei em mim
o avesso do neutro.
Preparo para o dia
a fala, curva do infinito
num silêncio de âncora
atalho onde me calo
e colho, como a um galo,
o intervalo do azul




O Manifesto na chilena Astrid Fugellie, cujo poema “ Manifesto” encontra-se no livro “Chaves para uma maga”:
A Estela
A velha, dizem,
a velha de água suja,
esculpe palavras a torto e a direito
ou conversa com o silêncio à tontas
enrolando-se.

A louca, dizem, a que se alimenta de
vinho porque o pão já não o traga.

A louca, velha louca do cálice
“melhor que a crista, dizem,
porém louca.

Amortalhada em águas benditas caminha
pelos troncos do esquecido cambaleando-se
para re-buscar algo que a torne homem
de cabelo no peito ou mulher de peito
nu.

Outro exemplo de Manifesto lemos no poema “ Mulher” da nicaragüense Esthela Calderón :

Mulher nascida para parir os filhos que “Deus queira” (disse a igreja)
Que importam se pedem nos semáforos
E aspiram cola em qualquer lugar da rua.


Mulher nascida para cuidar filhos ( sustenta o machismo)
Que importa se os filhos são com outras
(total estão batidos com o mesmo soquete).

Mulher nascida para decidir; “Meu corpo é meu”
(tremenda campanha feminista),
Que importa então:
Se digo sim a todo o bairro, total “ meu corpo é meu”,
É com meu consentimento e “marias” há em toda parte.

Mulher nascida para brilhar sempre glamorosa e delgada,
( assim indica a publicidade de revistas e canais)
Não interessa se todas as gordinhas vão morrendo de anorexia.

Mulher, a bruxa presenteia maçãs,
primeira na fila de excomunhão,
negada a querer sem contrato,
perseguida por não andar com um homem ao lado,
excluída porque seu nome não está seguido por um “de”,
ignorada por ter pensamento próprio,
repudiada por não usar uma argola
que se disfarce de aliança em meu dedo.

Escandalizam-se porque digo:
Sou mulher! Sem igreja, sem machismo,
Sem feminismo, sem revistas e canais.

No livro “ Concerto a céu aberto para solo de ave” encontramos o poema “Prefácio”, do poeta brasileiro Manoel de Barros, um verdadeiro abrir de novas fronteiras para as invenções de linguagem. Assim nos revela:

Assim que elas foram feitas ( todas as coisas) –
Sem nome.
Depois é que veio a harpa e a fêmea em pé.
Insetos errados de cor caiam no mar.
A voz se estendeu na direção da boca.
Caranguejos apertavam mangues.
Vendo que havia na terra
Dependimentos demais
E tarefas muitas –
Os homens começaram a roer unhas.
Ficou certo pois não
Que as moscas iriam iluminar
O silêncio das coisas anônimas
Porém, vendo o homem
Que as moscas não davam conta de iluminar o
Silêncio das coisas anônimas –
Passaram essa tarefa para os poetas.

Da poeta Arabella Salaverry ( Costa Rica), em seu Breviário do Desejo Esquivo, escrito em 2006, revela-nos em “ Onde encontrar-me”:
Busca-me na palavra

É ali
E só ali
No incisivo amálgama das letras
Na sílaba
No delírio do verbo
Na intensa claridade da palavra
aonde meu corpo sangra
ferido por cortes infinitos
se umedece
sai de sua tumba
e ressuscita

sim.

Busca-me na palavra.


Em “ A Cruz” , poema de Beatriz Schaefer Peña , escritora argentina, temos um belo exemplo de Paródia ( classifica-se em: verbal, formal e temática).Sendo a paródia um contra-canto, uma imitação humorística de um modelo sério, que o deforma, interpretamos de imediato a sutil ironia desta paródia verbal ( onde a alteração de uma palavra torna trivial uma peça literária).
Nua sobre o leito,
pernas e braços estendidos,
também sou símbolo
debaixo do poder


Em Anace Blum, do Equador, no poema “No vale dos feios” temos uma paródia temático ( onde a forma e o espírito do escritor são caricaturados).

Habitam
meu corpo
e todas
as flores mortas.






“Bandilhismo” a poética da canção de Aldir Branco e João Bosco (Brasil)
Exemplifica bem o que é uma paródia temática, porque ironiza a forma e estilo do poeta brasileiro Augusto dos Anjos, expressão singular na poesia brasileira do início do século XX.

Meu coração tem butiquins imundos,
antros de ronda, vinte-e-um, purrinha
onde trêmulas mãos de vagabundo
batucam samba-enredo na caixinha

Perdigoto, cascata, tosse, escarro,
um choro soluçante que não para,
piada suja, bofetão na cara
e essa vontade de soltar um barro...

Como os pobres otários da Central
já vomitei sem lenço e sonrisal
o P.F. de rabada com agrião.

Mais amarelo do que arroz de forno,
voltei pro lar, e em plena dor-de-corno
quebrei o vídeo da televisão


Na paródia formal ( o estilo e o amaneiramento de um escritor é utilizado como tema de uma obra), cujo poema “ Perguntas”do poeta brasileiro Carlos Queiróz Telles, explica a ironia com o espelho da personagem “Bruxa” do conto infanto-juvenil “Branca de Neve”.

Espelho,
espelho meu,
dizei-me se há alguém
mais atrapalhada,
mais confusa,
mais entusiasmada,
mais esquisita,
mais perdida,
mais alegre.
mais apaixonada,
do que eu ?

Como mistura de vozes, de discursos paralelos, o pastiche não é um plágio, mais sim, um diálogo admirativo. Portanto, afirmativo de uma obra de arte ou de várias obras de arte, como também exemplificamos em “ Hino À Língua Portuguesa” de Vanda Lúcia da Costa Salles ( trabalho arteterapêutico em teatro com alunos) e dedicado a uma amiga brasileira, cuja epígrafe enfatiza o método educacional para a consciência poética.





“ À educação pela paradoxa dá forma a consciência poética”.
Kátia Gonçalves Rocha

Pois eu, Minha Senhora D’Alfaya
Eu queria escrever-te uma carta de amor
Mas o verdadeiro amor onde se esconderá?
Guerrilheiros silenciar? Isto é uma injustiça!
Eu canto porque o instante existe
Junto a mim... os meninos à volta da fogueira
Vão aprender coisas de sonhos e de verdades
E os que lêem e os que escrevem, sabem
São línguas do amor os meus versos
E estão a arder no meio do caminho
Sabeis: todo caminho é belo se cumprido
Ficar no meio é que é perder o sonho
Por quem trovei e a que um dia
Sabeis notícias do meu namorado?

E as minhas mãos já não escrevem e os poemas
Culpa, é senhor, guardar amor constante
Ah!... Alma minha gentil, que te partiste
Verás o dia 7 de setembro, em Paris.
E as cantigas do pobre caminhante
O corpo de estatura um tanto esbelta e,
A sabiá... Eu quero ouvir na laranjeira,
À tarde


Brasil do devagar tão de repente
Mas onde canta o sabiá?
N’os braços da pátria amada, será?
N’os olhos, em que o Amor reinava, um dia?
Naquele arbusto o rouxinol suspira
Ah! Este inferno de amar – como eu amo!
Seu perfume exala a flor, Oh! doce encanto
E a bela que eu amava dirá:
Cantem poetas o poder romano, pois
Amanhã... entoaremos hinos à Liberdade.

Os antigos sabiamente pintaram o Amor
Na figura de um índio o mais gentil
Ubirajara! Iracema! Nas mãos traziam arco com suas setas
E ela, Dom Casmurro, A Última Flor do Lácio...
Tão bela!
Todos pela Educação... E nós também!

Nesse Pastiche, a poeta brasileira Marilda Confortim diz em seu “ Para não dizer que não falei de flores”

Então tá amigos poetrixtas.Vou cutucar esse vespeiro. O problema é que minha vara é curta e não tenho fumegador para me defender das ferroadas dos zangões. Sou tão leiga em apicultura quanto em lingüística.Eu gosto mesmo é do produto final. Sempre comi e me lambuzei do mel cantado e decantado dessas duas artes, sem nunca ter me preocupado com os aparatos utilizados na sua fabricação ou colheita.Mas aí pintou uma nova marca chamada Poetrix e para melhor apreciá-la tive que pesquisar algumas ferramentas, técnicas e variações. Mas não fui muito fundo, não.Tipo assim: Li que alguns apicultores usam máscara de filó, com chapéu de algodão e outros usam máscara de arame, com chapéu de palha. No poetrix, alguns autores fazem uso de metáforas e tropos enquanto outros preferem paródia e pastiche. Tem especialistas no MIP que conhecem bem a diferença entre essas ferramentas e podem explicar melhor que eu, como e quando utilizá-las. Como apreciadora de poetrix, quero mais é sentir o gosto do mel no meu pão de cada dia.(Lembrei do Leminski numa de suas palestras. Ele disse que poeta é quem sente a poesia, não importa se escreva, publique ao não. E reforçou dizendo que quem não tem senso de humor não acha graça da piada. Todo mundo riu alto. Bando de puxa-sacos. Aí percebi que senso de humor não se mede pelo volume da gargalhada e que nem sempre quem ri por último ri melhor.)Mas voltemos às abelhas.Sei que a grande contribuição ecológica da apicultura é provocar a fecundação utilizando o pólen, isso é: a polinização; E qual é a grande contribuição cultural do poetrix, senão polemizar provocando a fecundação da poesia? (O quê? Polêmica não é derivada de pólen? Putz! Então acabei de criar um neologismo. Desculpem.)Os aprendizes, quando sentem o perfume de uma flor no pote de mel, podem pensar que o produto é falsificado. É não, gente! É que as abelhas costumam visitar a mesma flor várias vezes. Leitores desavisados também podem sair dizendo que as canções de exílio de Casimiro de Abreu, Murilo Mendes, Carlos Drummond de Andrade, Eduardo Alves da Costa, José Paulo Paes e tantas outras, são todas plágio da Canção do Exílio de Gonçalves Dias. São não, gente! É que os poetas costumam visitar as mesmas flores várias vezes.O Poetrix, não só pratica a polinização (ou devo chamar de simulacro? Intertextualidade? Recorrência temática?), como incentiva a re-visita, a releitura e até criou uma categoria chamada Clonix.Um clonix, nunca pode vir desacompanhado do poetrix que o originou. Não precisa nem explicar o motivo. É só ler o belo exemplo da Eliana e Lilian e, como diz no Segundo Manifesto Poetrix: “Vamos privilegiar a inteligência do leitor! Que ele morda, mastigue, engula e faça a digestão. Que se vire! “MÃEa teu colo sempre voltoquando a tristezame mima(Eliana Mora)MÃEa teu colo sempre voltoquando há tristezamenina(Lílian Maial)Gostaram? Eu também. E tem mais. Babei com as Cirandas. E o Segundo Manisfesto? “Nada se cria, tudo se copia, concluíram Bakhtin e Chacrinha. Então, vamos hiper, intra e intertextualizar, sejamos dialéticos, digitais e dialógicos. Queremos a inter/ação, queremos o simulacro, a paródia, o pastiche, o duplix, o triplix, o multiplix, o grafitrix, o clonix, o concretrix”Poetrix não é brinquedo não. Ou a gente procura entender o significado de cada uma dessas palavras, pesquisa aí na Internet a história do Chacrinha, Bakhtin, Kristeva, Calvino, Oswald, Drummond e do bispo que comeu sardinha, entra no espírito e diz um verso bem bonito, ou diz adeus e vai simbora.Sem essa de ficar por aí, atirando um pau no gato e dizendo que o MIP incentiva o plágio. Que pobreza de espírito!



Na convergência das obras pesquisadas, observamos com profundo respeito, uma constante preocupação em dizer a verdade do tempo contemporâneo em uma configuração em espiral. Como buscando ultrapassar o labirinto enigmático da própria escritura poética. É o que tem em comum e que se procura transformar são os comportamentos simbólicos e a alienação entre ler e escrever, o qual é um fenômeno histórico. Ao inferir no sistema de signo e, perpetuar a memória da cultura grafocêntrica, aquela também um sistema de signos, os poetas pós-modernos contemporâneos estão a questionar essas outras vozes destituídas pelo centro e marcadas como periféricas.
A Identidade/ Diferença, Memória/esquecimento estão no centro do debate atual. E como tão bem nos ensina nesse seu diálogo prefacial a escritora Olga Orozco “ Nuestro largo combate fue también um combate a muerte com la muerte, poesia. Hermos ganado. Hermos perdido, por que ? Como nombar . Con esa boca, com nombar em este mundo com esta sola boca ?”
Ser voz no silêncio é o projeto, daí cabe a pergunta aos companheiros: É possível a literatura e as artes plásticas explicitar a Bioecolinguística, fazer um mapeamento de estruturas linguísticas e análise arqueológica da linguagem e disseminar uma alfabetização transnacional de entendimentos aos anseios contemporâneos na construção e reconstrução da informação, do conhecimento e dos saberes ?




· Palestra conferida na Universidade Nacional de San Martín-UNSAM, na Escuela de Humanidades, no dia,
26/07/08

domingo, 1 de janeiro de 2012

´BIOECOPOÉTICA: MEU SOL COM AROMA DE ALECRIM OU UMA CANÇÃO PARA FABIEN - VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES (BRASIL)









MEU SOL COM AROMA DE ALECRIM







OU







UMA CANÇÃO A FABIEN


I


Amor
em minha vida,
como sinfonia no ar,
este é o meu jeito
de ser infinita.
Toquei um sonho,
o deposito em tuas mãos, somente:
para alcançar as estrelas...
Sinto-me nas flores
Este seu perfume
é a sua alma
Entretanto,
a ternura do privilégio de amar
ofereço-te
nesta estrada
em que estamos
lado a lado.


II


Meu amor,
Só o amor o seu ... O meu amor
deu-me asas para voar,
entreguei minha vida a sonhar
e esta pequena canção embala o nosso tempo,
tal o alecrim no campo dançando ao sabor da brisa,
tocado pelos raios do Sol,
desse nosso sol primaveril.
Então eu,
tal como o alecrim dourado e semeado,
só penso em bailar
quando no espelho de seus olhos
vejo a mensagem
de todo o seu Amor
Porque
meu sol tem aroma de alecrim
e se derrete feito criança
diante do seu Amor

III


Em azul,
mirando as estrelas na palma de sua mão,
o meu rebento está alegre... E sua alegria contagia.
Na vida... apesar da luta, ele canta
essa canção com todo o seu amor,
porque a poesia se revela, então
intensa e grande... Como sempre será
para além dos girassóis de Van Gogh... Esperançoso Sol
E acordados,
principiamos o dia,
na certeza do reencontro,
com sinfonia no ar.


IV


E se meu Sol tem aroma de alecrim dourado
é porque.
mais uma vez,
a poesia revelou-se nesse teu olhar
temperando os caminhos do mundo,
linda criança,
de meu jardim em flor!



V



... E se a vida prolongasse-nos
como esses raios de Sol, talvez
essa infinita ternura que nos compele iguais
guardasse todo o aroma
em suas sementes...
E no todo de nós, a arte em ser día!